sexta-feira, 29 de outubro de 2010

3 cigarros, 2 cafés, 1 amigo.

Um cigarro, um expresso e um amigo. Um amigo que simplesmente me deixe falar sem contar seus exemplos, por que o que eu preciso de antemão é ser ouvida. Um que se interesse pelo que eu digo antes de julgar qualquer coisa, pergunte e silencie. Um amigo que ao menos finja entender como me sinto, que se ponha a minha disposição pra o que eu precisar, mesmo que ele e eu não saibamos o que seja. Um alguém que faça uma piada leve com a situação, comente uma matéria da revista que gostamos e acenda outro cigarro. Uma pessoa pra quem eu não precise justificar cada escolha, que sinta falta sem precisar de mim, que não me cobre nem se ofereça demais. Um amigo que saiba que não é único e que também tenha outros amigos que não eu. Um que também me conte das suas angústias sem ser vítima, sem fazer menos do que fala, sem esperar ganhar na sena que nem apostou. Amigo que, como eu, ache que, às vezes, ouvir o que precisa é mais importante do que o que gostaria, e por isso se preocupe em pinçar cada palavra, para não machucar, mas ser verdadeiro. Então peça um café aromatizado de chocolate, fale só amenidades rindo até o fim da segunda xícara. E depois pague a conta, por que dessa vez eu tou sem grana e compenso na próxima. Me acenda o último cigarro, me abrace e tenha a certeza de que salvou meu dia.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

abaixo o perfume

Quero feder. É isso mesmo: quero feder. Qualquer hora dessas saio sem desodorante pra deixar o cheiro de suor falar que dei duro aquele dia. Vou abolir o TênisPé (Baruel) por que meus pés merecem o chulé que fabricam por me carregar o tempo todo, vou tirar do banheiro o sabonete íntimo que disfarça “possíveis odores”.

Ora, esses possíveis odores são do meu corpo trabalhando, sou eu em partículas, funcionando e bem. Mania de assepsia, mania de ser fake. Como diria OMO, se sujar faz bem e ninguém pode crescer saudável com cabelo sempre arrumado, sovacos eternamente sequinhos, rosto sem uma mancha ou cicatriz, pelos milimetricamente controlados. Isso é negar sua realidade, é fingir que não tem sangue, saliva e outros líquidos dentro de si. E esse cuidado de esconder a própria natureza não é muitas vezes pra conquistar alguém, beijar esse alguém, se esfregar nesse alguém e trocar fluídos com esse alguém? Pois então.

Eu quero é cheirar a sexo, cheiro de quem é desejada de verdade e não tem pudores do próprio corpo. Como diria Nelson Rodrigues: sexo bom é sexo sujo. E não me venha como moralismos, por que ele também disse que se todas as pessoas soubessem da vida sexual uma das outras ninguém se olhava nos olhos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

S.A.

Oi, meu nome é Jordana e faz dois dias que não choro.
Na última reunião do S.A. – sensíveis anônimos – decidi que não ia postar nada das coisas meio tristes que andava pensando. Fiquei um pouco em silêncio, então. Aí fui pensar em algo bom, por que afinal os S.A.s as vezes se abatem pelo simples fato de estar vivo, mas também tem pequenas epifanias do cotidiano. Lembrei de algumas pessoas e de como elas em algum momento e por algum motivo que desconheço decidiram se tornar meus amigos.
Digo decidiram, mas poderia dizer persistiram em se aproximar de mim. Nem sempre fui tão acessível, há poucos anos, reconheço, tinha uma cara que afugentava qualquer um. Mesmo assim, uma passou um tempo trocando de lugar todo dia na classe me seguindo, já que eu sempre escolhia uma cadeira diferente. Outra era colega de infância e a gente se reencontrou já crescidas e ela bateu o pé que me não ia mais ficar tanto tempo longe. O povo investiu em mim e eu agradeço.
Hoje noto que ainda acontece essa vontade de se chegar, e é tão mais fácil. Ficou tão fácil que tem vezes eu queria ficar só comigo, mas alguém puxa conversa no ônibus, na banca, no parque... Acho que é por que hoje, percebendo como é bom fazer amigos, eu consigo sorrir cada vez mais. Tenho certeza de que sou, pelo menos, uma companhia divertida, já que “sou mongol, eu”. Então, se quiser, chega aí. Vou te render no mínimo alguns momentos bobagentos e eu só por hoje continuo sem chorar.

sábado, 2 de outubro de 2010

sobre as minhas esperanças e a política

Quando leio sobre as histórias do mundo eu queria ter vivenciado, por exemplo, a beatlemania. Eu queria ter sido jovem quando a agitação social estava rolando com força nos anos 70 ou 80. Eu fico imaginando como foi participar do movimento feminista, da luta dos negros, da liberação sexual, dos festivais de rock, das comunidades hippies, etc, etc, etc. O pessoal que tava lá naquele momento tem muito do que se orgulhar, foi essa turma que chacoalhou geral, que mexeu com a forma de fazer política e economia, com o conceito de família, com vários pensamentos científicos. Foram essas mudanças que permitiram que nos anos 2000 fosse tranquilo ter um P.A., morar com amigos mesmo mantendo um quarto na casa da happy family, formar uma banda com os colegas mais esquisitos da escola, assumir-se gay, punk, grunje, playsson, emo, restart... ok, nem tudo são flores.


Aí, parei pra pensar no momento que eu tou vivendo e – nossa! – é um momento muito importante também. Quando eu ainda tava na escola sempre diziam que nós, as crianças, éramos o futuro do Brasil. Sem saber bem por que, eu chorei a morte do primeiro presidente civil depois da ditadura, marchei com os cara-pintada contra o Collor – era pra matar aula, mas eu tava lá. Meu primeiro voto elegeu um trabalhador presidente e agora vai ser pra uma candidata, possivelmente a primeira mulher a governar o país. A minha geração desfruta de todas as conquistas de quem encarou os desafios do século XX. A gente não tem mais aquela ideologia revolucionária e nem a disposição do engajamento (nossas lutas são muito mais pessoais). Mas de alguma forma estamos presenciando uma renovação política, vemos uma mudança social dar seus primeiros passos. Mais pra frente, eu, pelo menos, vou poder contar pros meus filhos e netos que vi o futuro que nos prometiam começar a chegar.