[tentei de tudo pra disponibilizar Creep, do Radiohead (choral version) como trilha sonora pra esse post. não consegui. use suas memórias musicais, as boas, pra ouvir a música enquanto lê]
Uma memória escapou de sua gaiola no sótão, encurralou meu bom-humor numa tarde cinza, derrubou e quebrou o vidro da minha destreza, enxotou o meu tesão pela janela. Correu atrás do meu sono, não conseguindo pegá-lo, perseguiu a vontade de acordar. Esgotou minhas vontades, escondeu os meus sorrisos, encaixotou minhas certezas, cobriu os caminhos do meu porto seguro.
Uma memória bagunçou meu dia, deixou a impaciência ir brincar no jardim, me embaraçou os cabelos da vaidade, folheou meu dicionário de palavrões, parou a terra e pôs o sol pra andar ao seu redor por horas sem fim. Essa memória tirou o telefone do gancho, desligou a música, cortou a luz. Ela fez o sofá desconfortável, as balas amargas, os lenços de papel ásperos. Ela, que olhou bem nos meus olhos, perguntou “tá sentindo agora?”.
Uma memória, e eu nem sabia que podia sentir tanto, perfurou minha blindagem. Os médicos disseram que passou perto do fígado e se alojou por ali mesmo, mas não representa perigo. Me aconselharam a ser mais cuidadosa e fechar a porta a cadeado depois do susto. Também percebi que me aconselharam discretamente a tirar do armário a arma enferrujada e encará-las de vez.
Muito forte, linda. Parabéns. Nunca deixe de escrever.
ResponderExcluirAi vai o link da música.
http://www.youtube.com/watch?v=axrqVfuGHh0&feature=player_embedded